terça-feira, 5 de julho de 2011

Habitalidade e Bem estar

Este texto abre a mente de como devemos atuar na profissão de design.

Ambos os termos do título deste trabalho traduzem o fim da própria arquitetura: a produção de um espaço vivido, apropriado e familiar. Dotado de uma ordem e de um sentido em que somos capazes de nos reconhecer, desenvolver nossas potencialidades e estar bem conosco, com nossos semelhantes e com o mundo que nos cerca. As construções de um modo geral, são edificadas na intenção de abrigar as atividades humanas. Não há arquitetura e cidade propriamente ditas sem aquele que habita, mas também não há habitante sem habitat.
A habitabilidade e o bem estar são atributos do sujeito e do objeto e surgem no encontro vivido do habitante e da habitação, um encontro não é mera contemplação, mas envolve o uso, o atendimento de algumas necessidades e desejos por parte do espaço projetado e construído e um tempo em que se constitui a familiaridade do espaço com aquele que o habita [...].
[...] A habitabilidade de um espaço cria o bem-estar quando se conforma um meio através do qual o habitante se conquista, se identifica, se vê abrigado em seus costumes, seus hábitos, e encontra no habitat um modo de se ter, de encontrar-se depois de girar o mundo, a cidade ou o dia de trabalho.
O bem-estar varia no transcurso do tempo e com a variação dos costumes: o bem-estar na história, o bem-estar do povo iraquiano, o bem-estar de uma criança. Esta divergência de bem-estares conforme as diferenças culturais giram em torno de um único núcleo: produzir a habitabilidade e o sentimento do habitar nos habitantes do espaço. [...] Por isso, a habitabilidade e o bem-estar vão além da constituição da forma que abriga o hábito cotidiano, a habitudine e requerem o decoro, os objetos que me confirmam, que me assentam em mim mesmo, os objetos próprios ao lugar e a mim e que dão-me um pouco de certeza da história que sou. O decoro não é decoração e o ornamento não é ornamentação, mas os instrumentos visíveis que fazem com que me encontre, que esteja num lugar este alguém que sou eu, com desejos e possibilidades a serem realizadas. Quando acontece este “eu estou”, este “eu sou” e este “posso ser eu minhas circunstâncias e minhas possibilidades” o bem estar vem e me põe em repouso ou em movimento. Quando, ao contrário, eu vejo o indecoroso à minha volta, este “não eu”, que me contradiz e me faz sentir alienado e não estando em um lugar, vem a insatisfação, o mal estar no espaço e o mal estar em mim  e comigo.

imagem: not1.com.br

De: Carlos Antônio Leite Brandão (Professor da UFMG)
Adaptado por Camila de Lelis.

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